A indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) se tornou um dos assuntos mais delicados dentro do governo federal. O Palácio do Planalto acompanha com apreensão a movimentação no Senado, onde crescem as chances de a indicação ser rejeitada. Diante desse cenário incerto, aliados do presidente Lula iniciaram uma articulação intensa para evitar que o episódio se transforme em um desgaste político de grandes proporções. Nas últimas semanas, o clima em Brasília se tornou mais tenso, e cada movimento passou a ser calculado com precisão.
A Estratégia Para Evitar a Convocação de Messias
Dentro desse tabuleiro complexo, uma prioridade se destacou: impedir que Messias seja chamado a depor na CPI mista que investiga esquemas de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS. O objetivo da comissão é apurar a atuação de uma quadrilha especializada em fraudar benefícios e aplicar cobranças indevidas em milhares de segurados. A convocação do advogado-geral da União para esclarecer pontos sensíveis da investigação seria, para o governo, um risco político alto — especialmente às vésperas da sabatina no Senado. Por isso, a base governista se mobiliza para travar qualquer tentativa de colocá-lo diante dos parlamentares da CPI.
As Acusações da Oposição
A ofensiva da oposição encontrou terreno fértil para questionamentos. Alguns parlamentares sustentam que Messias teria evitado agir contra um sindicato citado em diversas denúncias relacionadas ao esquema de descontos irregulares. Segundo eles, a AGU não teria solicitado o bloqueio dos recursos da entidade, medida comum em situações semelhantes. Messias, porém, nega reiteradamente qualquer tipo de omissão. O argumento central dos opositores é um documento enviado por procuradores federais à AGU, ainda em 2024, alertando para a grande quantidade de reclamações sobre cobranças irregulares em benefícios previdenciários. Esse informe destacava, de forma direta, o Sindinapi como uma das entidades mais mencionadas. O detalhe que acendeu o alerta político foi o fato de o vice-presidente do sindicato ser Frei Chico, irmão do presidente Lula — informação que rapidamente alimentou a disputa narrativa no Congresso.
A Reação do Advogado-Geral da União
Em meio às críticas, Messias tentou se defender publicamente. Durante uma participação no programa “Bom Dia, Ministro”, no mês de maio, ele afirmou que a atuação da CPI poderia comprometer o ressarcimento às vítimas dos descontos ilegais. A declaração ampliou ainda mais o desconforto entre a comissão e a AGU, que passou a ser vista com desconfiança por parte de alguns parlamentares, especialmente aqueles menos alinhados ao governo. Para a comissão, a fala sugeria uma tentativa de deslegitimar os trabalhos e fugir de questionamentos sobre decisões internas.
A Batalha Dentro da CPI
Na semana passada, a CPI analisou um pedido para convocar Messias, mas a votação foi adiada após forte pressão da base governista. O clima, porém, está longe de ser de tranquilidade. O tema voltará à pauta no dia 4, e os parlamentares opositores garantem que continuarão a insistir na convocação. O argumento deles é que o advogado-geral precisa explicar, de forma detalhada, como a AGU tem conduzido os procedimentos relacionados aos descontos indevidos. Eles afirmam que o órgão atuou de forma diferente do que costuma fazer em casos semelhantes e que essa discrepância levanta suspeitas.
O Temor de Uma Derrota Política
Enquanto isso, Lula monitora a situação com preocupação crescente. O presidente sabe que a rejeição de um indicado ao STF seria um revés político expressivo e poderia minar a imagem de articulação e força do governo dentro do Congresso. Nos bastidores, aliados relatam que o clima no Planalto é de tensão e que, apesar das tentativas de demonstrar confiança, há o reconhecimento de que o cenário é mais arriscado do que se imaginava inicialmente. O desgaste político, caso Messias seja rejeitado, poderia gerar impactos que vão além da nomeação ao STF. Seria interpretado como uma derrota simbólica em um momento estratégico, no qual o governo tenta demonstrar estabilidade e controle sobre sua base.
As Articulações Silenciosas
Por trás das câmeras, reuniões se intensificam. Líderes partidários têm sido acionados, senadores estão sendo procurados individualmente e interlocutores experientes do governo atuam para consolidar votos favoráveis. A ordem é clara: evitar que ruídos externos, como a CPI, interfiram no processo. A convocação de Messias é vista como o estopim que pode desorganizar toda a estratégia. Por isso, garantir que ele não precise enfrentar perguntas públicas antes da votação é tratado como prioridade máxima.
O Papel da Base e as Incertezas
Mesmo assim, o ambiente no Senado não é totalmente previsível. Parte dos senadores, incluindo alguns do chamado “centrão”, prefere aguardar o desenrolar da CPI antes de firmar posição. Isso deixa o governo em situação delicada, já que o adiamento da sabatina poderia ser interpretado como sinal de fraqueza, ao mesmo tempo em que avançar com ela sem os votos garantidos seria um risco enorme. O presidente do Senado, por sua vez, tem adotado uma postura mais reservada, evitando demonstrar alinhamento absoluto com qualquer lado.
Um Cenário em Evolução Constante
Cada nova declaração, cada movimento da CPI e cada rumor de bastidor altera o equilíbrio político. A oposição percebe que esse pode ser um dos momentos mais sensíveis para pressionar o governo e tenta explorar cada brecha. Já o Planalto aposta na ideia de que Messias, com histórico técnico e alinhamento institucional, ainda pode conquistar a confiança necessária no Senado. Porém, enquanto o impasse persiste, a tensão aumenta.
A Tempestade Que Ainda Está Por Vir
Dentro do governo, a avaliação é clara: se a convocação for aprovada no dia 4, o desgaste será imediato. E, caso Messias seja rejeitado na sequência, Lula enfrentará a maior derrota política de seu mandato até agora. Por isso, a ofensiva nos bastidores tende a se intensificar ainda mais nos próximos dias. De um lado, a oposição insiste na transparência total. Do outro, o Planalto faz de tudo para evitar que seu indicado seja exposto antes da votação decisiva. O país acompanha cada capítulo dessa disputa, que está longe de terminar e pode redefinir os rumos da relação entre governo e Congresso nas próximas semanas.

