A possível nomeação de Jorge Messias — conhecido popularmente como “Bessias” — para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal tem enfrentado um ambiente cada vez mais hostil dentro da própria Corte. O clima é de cautela e desconforto entre os ministros, especialmente diante de episódios recentes que reforçaram a percepção de que sua presença no tribunal pode gerar atritos internos e comprometer a harmonia institucional.
Entre os nomes mais influentes contrários à indicação, destaca-se o ministro Gilmar Mendes. Com grande peso político e histórico de posições firmes, ele tem deixado clara sua falta de entusiasmo com a possibilidade de Messias integrar o colegiado. Fontes próximas ao tribunal afirmam que a resistência não se trata apenas de divergências jurídicas, mas também de preocupações sobre a postura do advogado e sua proximidade com o governo federal.
Gilmar Mendes e o sinal de alerta institucional
A postura contrária de Gilmar Mendes ganhou ainda mais evidência após sua recente recusa ao pedido apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU), então comandada por Jorge Messias. A solicitação buscava reverter uma decisão relacionada aos trâmites do processo de impeachment contra ministros do STF.
Na decisão, Gilmar afirmou que o pedido foi apresentado após o prazo estabelecido e classificou a atitude como um “expediente informal”. A crítica velada à condução da AGU serviu como um recado direto sobre sua insatisfação com a forma como o órgão tem trabalhado sob a gestão de Messias.
Essa manifestação repercutiu fortemente nos bastidores do tribunal, sendo interpretada como um sinal de que a entrada de Messias no STF não seria bem recebida. Em um ambiente onde a colegialidade é fundamental, observadores consideram que esse tipo de recado público possui enorme peso político.
Flávio Dino adiciona pressão ao debate
Se a movimentação de Gilmar Mendes já colocava Messias em uma posição delicada, as declarações de outro ministro, Flávio Dino, ampliaram ainda mais o desgaste. Durante uma sessão no plenário do STF, Dino fez críticas contundentes ao acordo firmado pela AGU com a Axia — nova denominação da antiga Eletrobras — no contexto das negociações envolvendo a participação da União na empresa.
Dino classificou o acordo como “constrangedor” e afirmou que ele continha um “jabuti do tamanho de um elefante”, em referência a dispositivos incluídos no documento que, segundo o ministro, fugiam do objeto principal da negociação. Ele também ressaltou que trabalhadores não foram adequadamente ouvidos, o que, em sua visão, desrespeita determinações constitucionais.
Essas críticas, feitas de forma pública e direta, pegaram Messias de surpresa e ampliaram a tensão. O episódio ficou marcado como mais um indício de que a relação entre ambos está longe de ser harmoniosa.
Acordo com Axia: o epicentro da controvérsia
O acordo que gerou a forte reação de Dino tratava da ampliação da presença do governo no Conselho de Administração da Axia. A privatização da empresa havia reduzido a participação estatal, o que foi alvo de questionamentos. Durante as negociações conduzidas sob mediação do STF, cláusulas foram adicionadas permitindo que a empresa ficasse desobrigada de investir na usina nuclear de Angra 3 caso o governo optasse por manter o projeto ativo.
Esse ponto foi duramente criticado por Dino, que considerou a concessão inapropriada e prejudicial aos interesses públicos. A maneira como a AGU conduziu a negociação passou a ser questionada por outros ministros e integrantes do mundo jurídico, contribuindo para um desgaste significativo da imagem de Messias.
Uma relação marcada por disputas internas
Apesar de terem atuado juntos durante o período em que Flávio Dino chefiou o Ministério da Justiça, Messias e Dino nunca foram próximos. Fontes do governo e do Judiciário apontam que a relação entre os dois é marcada por diferenças de estilo e visões políticas divergentes.
Essa tensão tem raízes antigas: ambos disputaram a indicação de Lula ao STF em 2023, e a vitória de Dino na ocasião teria deixado marcas. A recusa de Dino em comentar publicamente a indicação de Messias — afirmando se tratar de um tema “politicamente controvertido” — foi interpretada nos bastidores como uma tentativa de evitar atritos desnecessários, mas também como sinal de distanciamento.
A indicação perde força nos bastidores
Com os movimentos recentes, cresceu a percepção de que a indicação de Messias para o STF enfrenta obstáculos internos e externos. Na Corte, a maioria dos ministros parece desconfortável com sua possível chegada. No meio político, analistas consideram que o desgaste acumulado pode levar o governo a reavaliar a escolha.
A eventual nomeação de Messias exigiria não apenas aprovação técnica e política, mas também capacidade de articulação com o tribunal — um ponto que muitos consideram problemático diante do cenário atual. O ruído gerado pelos episódios envolvendo a AGU, somado às críticas públicas de nomes como Gilmar Mendes e Flávio Dino, pesa contra sua ascensão ao tribunal.
O impacto político para o governo
A situação coloca o governo federal em posição delicada. A escolha de um ministro do STF é estratégica e deve levar em conta não apenas critérios jurídicos, mas também a estabilidade institucional. Com a resistência crescente dentro do tribunal, o Planalto pode enfrentar pressão para optar por um nome de maior consenso.
Analistas políticos afirmam que o governo não deseja desgastes adicionais com o Supremo, especialmente em um momento de tensões políticas e debates sensíveis no país. Uma indicação rejeitada informalmente pelos ministros teria alto custo político.
Conclusão: um cenário de incertezas
A trajetória de Jorge Messias rumo ao STF, que já não era simples, agora enfrenta um cenário ainda mais turbulento. A oposição de figuras influentes, aliada à repercussão negativa de decisões recentes da AGU, faz sua indicação perder força rapidamente.
Se o governo insistirá em seu nome ou buscará uma alternativa mais palatável ao tribunal e ao ambiente político, ainda é incerto. O que parece claro, porém, é que Messias terá dificuldade para reverter o quadro de desgaste e construir apoio suficiente para chegar à mais alta corte do país.

