A articulação política que envolve a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal ganhou novos contornos após um telefonema feito pelo ministro Alexandre de Moraes. A ligação, realizada logo após o anúncio do nome do advogado-geral da União como indicado ao STF, soou cordial, institucional e alinhada ao gesto esperado entre autoridades. Porém, nos bastidores, o episódio acendeu debates sobre movimentações, expectativas e a real disposição de Moraes em auxiliar o indicado na corrida pela aprovação no Senado.
O apoio inicial e o pedido inesperado
No contato, Moraes cumprimentou Messias pela indicação e lhe desejou êxito no processo de construção de apoio político antes da sabatina marcada para o dia 10 de dezembro. De acordo com relatos de pessoas próximas ao AGU, o ministro do STF adotou um tom formal, mas amistoso, ressaltando a importância de preparo e articulação diante de um Senado dividido. Foi durante essa conversa que surgiu um pedido sensível. Ciente das resistências que precisaria enfrentar, Messias solicitou a Moraes uma ajuda específica: atuar para reduzir tensões entre o indicado e figuras-chave do Congresso, especialmente o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre, um dos principais nomes capazes de influenciar o ritmo e o clima da sabatina. Alcolumbre tem papel determinante na dinâmica das indicações ao Supremo, e conquistar sua receptividade se tornou prioridade para a equipe que acompanha a candidatura do AGU.
A necessidade de um gesto político
Segundo um articulador envolvido na campanha de apoio, a intenção de Messias era conseguir que Moraes contribuísse para abrir caminhos e ajudar a “construir uma saída política” diante do cenário de resistências. Esse tipo de movimento não é incomum em indicações ao STF, especialmente quando envolve atores com forte presença no Legislativo. O pedido, no entanto, evidenciou uma expectativa maior: a de que Moraes, por sua influência e relação com diversas lideranças políticas, poderia atuar como um fiador moderado ou até mesmo como ponte entre o indicado e setores refratários do Senado. O contexto, porém, mostrava algo mais complexo. Enquanto Messias buscava ampliar alianças, quem acompanhava os bastidores notava que a disposição de Moraes em entrar no jogo político parecia limitada. O ministro, apesar da cordialidade da ligação, não demonstrou sinais claros de que se empenharia na redução das tensões ou na articulação por apoios decisivos.
Resistências silenciosas dentro do próprio Supremo
A sinalização de Moraes foi interpretada como respeitosa, mas não como um gesto de mobilização. Pessoas próximas ao AGU afirmam que, após a conversa, não houve qualquer ação concreta do ministro no sentido de suavizar resistências no Congresso ou auxiliar diretamente nos bastidores da sabatina. Essa ausência de movimentação acentuou a percepção de que, embora politicamente experiente, Moraes não estava disposto a ser um dos protagonistas da campanha pró-Messias dentro do Senado. A leitura nos bastidores é que a neutralidade do ministro está longe de ser apenas institucional. Há quem afirme que Moraes sempre deixou claro, ao longo dos últimos meses, sua preferência por outro nome para ocupar a vaga no STF: o do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Essa preferência, segundo fontes ouvidas por interlocutores de Messias, nunca foi um segredo e já circulava entre figuras do mundo jurídico e político.
A preferência por Rodrigo Pacheco e seus impactos
O nome de Rodrigo Pacheco já vinha sendo ventilado como opção ideal para parte do Supremo e para determinados setores políticos. Sua relação com o Senado, sua postura moderada e sua forte articulação interna eram vistos como atributos que poderiam agregar estabilidade à Corte. Assim, quando a indicação de Messias foi anunciada, analistas perceberam rapidamente que o cenário político não estaria totalmente alinhado com o que Moraes consideraria a escolha mais adequada. Isso não significa rejeição explícita ou boicote, mas cria um ambiente de distanciamento calculado. Para Messias, essa postura significa um desafio adicional. A indicação por parte do Executivo não garante, por si só, a aprovação tranquila no Senado — especialmente quando há conflitos internos, desconfiança de alguns parlamentares e ausência de apoio firme de figuras de peso.
O clima no Senado e os obstáculos na sabatina
A sabatina no Senado deve ocorrer em um clima de cautela e expectativa. Davi Alcolumbre tem histórico de influenciar ritmos e resultados, e Messias sabe que não poderá contar inteiramente com movimentações de bastidores de ministros do Supremo, incluindo Moraes. Além disso, a indicação enfrenta barreiras específicas: parte dos senadores questiona a atuação de Messias à frente da AGU, outros avaliam que sua proximidade com o governo federal pode comprometer a percepção de independência e há ainda os que veem o nome como fruto de acordos políticos que não contemplam determinados blocos parlamentares. O cenário exige articulação vigorosa, e aliados reconhecem que o peso político de um ministro do STF teria grande capacidade de amenizar resistências. Mas, até o momento, Moraes mantém distância estratégica.
A leitura dos bastidores e a estratégia adotada
Fontes do círculo próximo ao AGU relatam que a estratégia tem sido redobrada diante da falta de suporte adicional. O grupo jurídico-político responsável pela campanha trabalha para fortalecer a imagem de Messias como um nome técnico, equilibrado e preparado para o cargo. A intenção é conquistar apoio pela capacidade e pelo histórico institucional, e não apenas por alianças políticas. Esse esforço, embora relevante, encontra dificuldades em um ambiente onde gestos simbólicos podem pesar tanto quanto articulações concretas. A ausência de Moraes no campo de apoio é vista por alguns como um recado silencioso, mas contundente: sua neutralidade não é apenas funcional, mas fruto de discordâncias anteriores sobre quem deveria compor o STF.
Conclusão: uma indicação que testa alianças e revela distâncias
A situação evidencia uma dinâmica mais ampla dentro da política brasileira, envolvendo preferências pessoais, estratégias institucionais e disputas silenciosas por influência na Suprema Corte. O telefonema de Moraes, embora cordial, expôs duas realidades distintas: de um lado, Messias busca apoio decisivo para consolidar sua indicação; de outro, Moraes sinaliza respeito, mas sem disposição para intervir. Com isso, a corrida até a sabatina de 10 de dezembro se torna ainda mais estratégica. Messias terá de enfrentar resistências, articular apoios e administrar a percepção de que parte do Supremo não abraçou sua indicação. O desfecho no Senado dirá se essa distância silenciosa terá impacto real ou se o AGU conseguirá superar as dificuldades e consolidar seu nome na Corte.

