A trajetória política de Davi Alcolumbre ganhou um capítulo decisivo quando ele resolveu disputar a presidência do Senado Federal contra Renan Calheiros, então considerado o grande favorito. Naquela ocasião, Alcolumbre tomou uma atitude incomum para garantir o controle da sessão preparatória das eleições internas: permaneceu mais de sete horas sentado na cadeira de presidente da Casa. Sua permanência contínua à frente da Mesa Diretora foi estratégica para assegurar que as decisões sobre o rito da votação fossem conduzidas por ele.
A insistência do senador teve um motivo central. Naquele momento, discutia-se intensamente a adoção do voto aberto para a eleição da Mesa Diretora, um tema que poderia alterar profundamente o resultado da escolha. O voto explícito, defendido por Alcolumbre e resistido por aliados de Renan, era considerado por analistas como um obstáculo significativo ao retorno de Calheiros ao comando do Senado. Ao conduzir os trabalhos com firmeza, Alcolumbre conseguiu manter sob sua supervisão todas as decisões sobre as questões de ordem, reduzindo o espaço para mudanças de última hora que pudessem favorecer o adversário.
A Estratégia do “Presidente Tampão” e o Impacto no Resultado
A postura de Alcolumbre foi além da sessão oficial. Mesmo durante o intervalo de uma hora entre a cerimônia de posse dos novos senadores e o início da sessão preparatória, ele não deixou a cadeira da Presidência. Permaneceu ali, ininterruptamente, garantindo a continuidade de sua atuação como “presidente tampão”, expressão utilizada por ele próprio à época.
Essa decisão pode parecer apenas simbólica, mas teve papel determinante na condução do processo. Ao não abrir espaço para que outra autoridade assumisse temporariamente o comando da Casa, Alcolumbre evitou qualquer questionamento sobre a sequência do rito e reforçou sua posição como condutor legítimo dos trabalhos. A partir dali, a sessão seguiu exatamente como ele havia planejado, com votações e discussões orientadas para permitir o andamento da pauta sobre o voto aberto.
A estratégia surtiria efeito direto na disputa. Mesmo enfrentando um adversário tradicional, experiente e com forte articulação nos bastidores, Davi Alcolumbre conseguiu transformar a própria persistência em um fator de desequilíbrio na eleição. Quando a votação foi concluída, surpreendeu parte observadores ao derrotar Renan Calheiros e assumir oficialmente a presidência do Senado. O episódio ficou marcado como um dos momentos mais emblemáticos das eleições internas do Congresso nas últimas décadas.
Como Esse Episódio Reaparece no Atual Cenário Político
Desde então, muitos analistas passaram a revisitar aquela disputa sempre que Alcolumbre volta ao centro de decisões relevantes no cenário nacional. E, recentemente, seu nome voltou a ganhar força em discussões internas sobre a sucessão de espaços estratégicos em Brasília. Entre parlamentares e interlocutores de diferentes grupos políticos, cresceu a avaliação de que aquela mesma capacidade de resistência demonstrada na disputa com Renan pode ressurgir em novos embates.
Um dos cenários que vem sendo citado envolve o atual ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias. Há quem avalie que, caso se confirme um movimento de disputa interna envolvendo seu nome, Alcolumbre poderia recorrer novamente ao estilo firme, articulado e insistente que marcou sua vitória histórica no Senado. Para alguns observadores, ele estaria disposto a entrar em uma disputa franca, voto a voto, buscando consolidar novamente uma posição estratégica.
Possível Confronto com Lula e Tensões na Base Aliada
Outra análise que circula entre parlamentares aponta que um eventual confronto político envolvendo o senador poderia colocá-lo até mesmo diante de uma disputa indireta com o presidente Lula, especialmente se houver divergências sobre indicações ou espaços institucionais relevantes. Embora não se trate de oposição aberta, seria uma movimentação interna, marcada por negociações, resistências e busca de apoio entre diferentes blocos.
Fontes políticas avaliam que Alcolumbre, caso decida avançar, não faria esse movimento isoladamente. Ele contaria com uma base de parlamentares que, por diferentes motivos, não estão alinhados com a ascensão de Jorge Messias. Entre esses, estariam inclusive integrantes vinculados ao próprio Partido dos Trabalhadores, o que poderia ampliar ainda mais o impacto de uma eventual disputa e torná-la mais imprevisível.
Os Bastidores da Resistência a Jorge Messias
A resistência ao nome de Messias não é uniforme, mas ela existe em setores específicos da base aliada e em alas que observam com cautela o crescimento de sua influência. Em momentos de definições internas, essa divisão pode ganhar peso considerável. E é justamente nesse ambiente que a figura de Alcolumbre ressurge como alguém capaz de operar com habilidade nas negociações e conduzir movimentos estratégicos.
Seu histórico de atuação — especialmente o episódio em que ficou horas na cadeira da Presidência para moldar o processo eleitoral interno — é frequentemente lembrado como símbolo de sua determinação política. Isso alimenta especulações sobre como ele poderia atuar caso surgisse novamente um cenário de forte pressão ou disputa direta por espaço.
Uma Disputa que Pode Redefinir Correlações Internas
Embora ainda não esteja claro se um confronto político dessa dimensão realmente ocorrerá, o simples fato de essa possibilidade estar sendo discutida já indica o quanto a movimentação interna no Congresso e no governo pode estar entrando em um período de sensibilidade. Disputas por cargos estratégicos, indicações institucionais e articulações de base podem definir o ritmo e o equilíbrio político dos próximos meses.
O nome de Davi Alcolumbre, por sua experiência, por sua capacidade de articulação e pelo histórico recente de protagonismo, continua a circular como peça central nesse tabuleiro. E caso volte a recorrer à mesma persistência que demonstrou contra Renan Calheiros, poderá novamente surpreender o cenário nacional.

